Budget enxuto. Tempo e recursos escassos. Múltiplos projetos. Diferentes demandas. Diferentes perfis de clientes. Agenda lotada. Necessidade de equilibrar vida profissional e vida pessoal… O quanto e quais destes desafios fazem parte do seu dia a dia como profissional?
Na verdade, em um ambiente de negócios guiado pela cultura da velocidade e do excesso informacional – e que, nas palavras do filósofo francês, Gilles Lipovetsky, nos leva ao terreno da hipermodernidade que está centrado no indivíduo, no dinamismo científico/tecnológico e no mercado – o correto talvez seja perguntar, de que modo você lida com os desafios que listei acima? Quais suas estratégias para manter o equilíbrio e não cair nos hábitos do overworking e overthinking?
Falando especificamente de meu mercado de atuação, tomo como princípio, primeiramente, a necessidade de saber sempre recomeçar. Afinal de contas, no marketing nós trabalhamos com hipóteses, as quais, embora desenhadas a partir de dados, análise de insights e tendências de mercado, são passíveis de falhas – ou, melhor dizendo, do realinhamento estratégico em prol da conquista de objetivos.
Neste sentido, se não flexibilizamos essa “cultura do erro”, nos tornamos incapazes de evoluir e aprender com os percalços que surgem em qualquer jornada profissional, empreendedora e mesmo de vida. E essa postura, por consequência, faz com que lidemos mal com nossas emoções e nos tornemos profissionais e pessoas negativas.
E este é um fator que, infelizmente, só cresce quando não aprendemos a lidar com os desafios e as exigências da sociedade contemporânea. Em uma pesquisa divulgada no fim de outubro na Harvard Business Review, por exemplo, o número de pessoas que classificou a raiva como uma de suas principais emoções cresceu de 20% para 45% de março até setembro deste ano.
Sem dúvidas, o contexto atual de isolamento e incertezas contribui para esta escalada – o que nos abre espaço para afirmar que, mais do que nunca, precisamos aprender a lidar com cenários voláteis, incertos e rodeados de desafios.
A conquista da resiliência
E um primeiro passo para esse aprendizado, na minha visão, envolve a conquista da resiliência, que nada mais do que a capacidade de saber lidar com os problemas e obstáculos do dia a dia, de modo adaptativo e resistindo a pressão que envolve desde a necessidade de lidarmos, como exemplifiquei no início, com fatores como um prazo e budget curto para a entrega de um projeto; até nossa própria cobrança interna, nosso perfeccionismo que, se demasiado, também pode nos frustrar.
E essa, por si só, não é uma conquista que se obtém em um piscar de olhos. Sobre este ponto, o The Resilience Institute listou algumas das virtudes que fazem parte do escopo de profissionais bem-sucedidos e resilientes.
Elas incluem pontos como senso de realização, foco, presença, flexibilidade e integridade; as quais, naturalmente, exigem toda uma mudança de hábitos, busca por cursos, mentoria e suporte, de modo que possamos reprogramar nossa mentalidade, transformando aquele sentimento de raiva ou frustração citado no início em propósito, direcionamento, evolução.
A inteligência emocional como fator determinante para o sucesso
Dentro desta busca, outra questão determinante envolve o desenvolvimento de nosso coeficiente de inteligência emocional – a aptidão de reconhecermos nossos próprios sentimentos e termos empatia com os demais. Não por acaso, a inteligência emocional é reconhecida como um dos principais drivers para o sucesso profissional – independentemente de sua função.
Já na década de 80, estudos de psicologia determinaram que, enquanto o QI tem pouca influência no sucesso pessoal e profissional de cidadãos, habilidades sociais e os chamados soft skills – incluindo a capacidade de lidar com frustrações, controle da raiva e sociabilidade – diretamente ligados a inteligência emocional são determinantes para tal sucesso.
A busca pela antifragilidade
Mas, e se além de nos adaptarmos ou resistirmos as pressões do mercado, pudéssemos evoluir em cenários de instabilidade? Em outras palavras: e se o caos fosse um motivador necessário para o nosso crescimento?
Na visão do filósofo e analista de risco líbano-americano Nassim Taleb, essa é justamente a proposição central para uma vida contemporânea em que os desafios, além de não cessarem em surgir, se tornam mais sofisticados e complexos. Como diz Taleb:
“A antifragilidade está além da resiliência ou robustez. Enquanto o resiliente resiste aos impactos e permanece o mesmo, o antifrágil evolui. Essa propriedade está por trás de tudo que mudou com o tempo: evolução, cultura, ideias […] até mesmo nossa própria existência como espécie.”
Com tudo isso, acredito que a resposta não está em eliminar os riscos que fazem parte de qualquer jornada; mas, antes disso, em aprender a trabalhar com estes elementos dinâmicos – e, por vezes caóticos – para criar novas ideias, inovar e, em suma, ser um profissional que encara desafios como fontes que instigam crescimento.